Segue um resumo do livro O Padrão Bitcoin, que acabou de ser lançado no Brasil (escrito por Saifedean Ammous e traduzido por este que vos escreve).
O Padrão Bitcoin é o livro que explica com mais clareza por que Bitcoin foi criado (quais problemas ele busca resolver) e por que ele será a base de um novo padrão monetário global, substituindo não só o dólar como também todos os Bancos Centrais.
Isso pode soar absurdo à primeira vista, mas depois de ler este livro você se convence que é o cenário mais provável para os próximos anos. Mas como?
Curiosamente, o autor só fala de Bitcoin no final do livro. Os sete primeiros capítulos se concentram na história do dinheiro, desde a forma primitiva (como conchas, gado, sal), passando por metais preciosos (como prata e ouro) até a criação do dinheiro governamental inflacionário.
A pergunta inicial é: Qual o problema que o dinheiro busca solucionar?
Resposta: Dinheiro serve para facilitar as trocas entre seres humanos, possibilitando o comércio, a especialização de tarefas e a prosperidade.
Sem dinheiro, voltamos ao escambo, o que gera inúmeros problemas de coordenação, impedindo a produção de riquezas e mercadorias, que não podem mais ser produzidas, trocadas nem acumuladas.
Sem dinheiro é difícil de ocorrer a dupla coincidência de desejos necessária para troca. Se eu me especializei em criar galinha e você arroz, podemos trocar galinha por arroz. Mas e se eu não quero arroz em troca de galinha? E se você não quer minha galinha em troca do arroz? E como vou armazenar o arroz para trocá-lo mais tarde por pão? E se ele estragar?
Diante desses problemas surge uma solução comum: encontrar algum bem que represente uma unidade de conta (1 unidade = outros bens), uma reserva de valor (não perderá seu poder de compra no futuro) e um meio de troca (será facilmente trocada por outra).
Para cumprir essas funções, emergiram naturalmente escolhas coletivas de uns bens monetários que fossem também, duráveis, divisíveis, escassos, reconhecíveis e transportáveis, caso contrário, eles não conseguiriam funcionar para facilitar as trocas.
Historicamente vários bens funcionaram como dinheiro, como sal, gado, conchas, miçangas de vidro e metais preciosos.
Mas a história não acaba aqui. Escolhido um bem para funcionar como moeda, surge agora outro problema, o chamado “problema da moeda fraca”.
Uma vez que um bem é aceito como dinheiro em uma sociedade, há um incentivo enorme (quase irresistível) de produzir mais desse bem, porque ele adquire um “prêmio” por funcionar como dinheiro.
Ele passa a ter valor de troca e não de uso. Por exemplo, o valor do ouro, hoje, vem mais de sua função de reserva de valor como um bem monetário do que do seu uso industrial.
O problema da moeda fraca acomete todos os bens monetários, em maior ou menor grau, considerando a dificuldade com que ele pode ser produzido.
Foi assim com miçangas de vidro na África, com prata, e até com o ouro.
O ouro foi aquele bem mais escasso e que foi acumulado por mais tempo, isso fez com ele fosse muito bom para ser usado durante séculos como dinheiro.
Porém, dado o impulso irresistível de produzir mais bens que funcionem como dinheiro, a humanidade passou a enfrentar uma situação política: tiranos antigos (como imperadores romanos) e Estados modernos tentam monopolizar a produção de dinheiro, aumentando sua produção para financiar seus gastos, sejam eles gastos para guerras imperialistas ou gastos para manter os Estados deficitários de hoje.
Até o século XIX, padrão-ouro tinha sido o melhor padrão monetário na história da humanidade, pois o ouro é difícil de produzir em grande quantidade considerando seu estoque já existente (uma alta taxa de escassez, stock-to-flow em inglês), o que permitiu manter seu valor de compra através de longos períodos.
Porém, como o ouro estava quase todo nos cofres dos grandes bancos e como os Estados precisavam se financiar para a Primeira Guerra, houve um praticamente um confisco global de todo o ouro e as moedas perderam o lastro.
As moedas fiduciárias estatais ganharam hegemonia pela força das armas: só o “papel” começou a circular como dinheiro e os cidadãos perderam o direito de resgatar o ouro que este papel representava, criando inflação e apropriação da riqueza nas mãos dos bancos e dos Estados.
Aqueles que tentaram escapar das moedas fracas estatais começaram a sofrer as duras penas dos controles de capitais, que existem até hoje.
O padrão-ouro antes permitia uma moeda forte e impedia os Estados e bancos de aumentar a oferta monetária, jogando a inflação nas costas do povo.
Uma moeda forte é aquela que mantém o poder de compra ao longo do tempo. Ela permite às pessoas a manterem os frutos de seu trabalho e economizarem.
Vivendo em uma sociedade com moeda forte, as pessoas diminuem suas preferencias temporais, passam a postergar a gratificação imediata e começam a investir com suas poupanças.
O livro traz dados impressionantes que mostram que o padrão-ouro foi um dos pilares dos avanços científicos e industriais do século XIX.
Com o fim do padrão-ouro e o começo da nacionalização do dinheiro, foi só ladeira abaixo.
Inflação, aumento da preferencia temporal, cultura do consumo, desequilíbrios, ineficiências no mercado internacional e crises econômicas severas passaram a ser comuns no século XX inteiro.
O resultado é que vivemos em uma era excepcional em que o dinheiro pode ser impresso à vontade pelos Bancos Centrais, que cada vez buscam mais domínio sobre toda economia.
Agora eles querem digitalizar suas moedas e acabar com a privacidade do papel-moeda (a cédula que você entrega na banca para comprar bala e que ninguém fica sabendo). Com moedas digitais estatais, tudo será monitorado e poderá ser expropriado ao bel prazer do governante que estiver no poder.
Foi no contexto crise de 2008-2009 (quando grandes bancos foram “socorridos” pelo Banco Central americano) que o Bitcoin surgiu para devolver à população a soberania sobre sua próprio dinheiro e, portanto, sobre sua própria riqueza.
Bitcoin é um dinheiro que não pode ser confiscado e não pode ser censurado. Só você pode movimentá-lo e para isso não precisa da autorização de ninguém. Seu sistema é ponto-a-ponto e descentralizado. Não existe nenhuma “autoridade monetária” que possibilita suas transações.
Além disso, nenhum governo pode imprimir mais dele, isto é, ele também não terá seu valor diluído. É muito caro criar novos bitcoins (por meio de um processo chamado de mineração) e sua emissão cai pela metade a cada quatro anos.
Isso faz com que ele seja extremamente escasso. É impossível criar mais bitcoins além daqueles autorizados pelo protocolo. Em breve, sua taxa de escassez será menor do que a do ouro, o que transformará o Bitcoin na moeda mais escassa do mundo e também a mais transportável, haja vista que ele pode ser transferido pela internet, por rádio e por satélite 24h por dia, 7 dias por semana.
Não é à toa que chamam o Bitcoin de ouro digital. Ele é melhor que o ouro porque o ouro é pesado e precisa ser bem guardado em um cofre. Se você tem suas chaves privadas do Bitcoin, não precisa de um cofre para guardá-lo.
Todas essas características tornam as moedas fiduciárias obsoletas. O Bitcoin simplesmente é um dinheiro muito melhor do que qualquer outro dinheiro criado na história da humanidade. Não precisamos mais de bancos nem de bancos centrais. Sua adoção será cada vez mais ampla e disseminada.
As pessoas vão finalmente poder voltar a acumular os frutos do seu trabalho em moeda forte, que agora se tornou inconfiscável.
A humanidade está convergindo espontaneamente para o padrão Bitcoin. Uma verdadeira revolução que trará mais paz e prosperidade para todo o planeta.
Se este texto lhe foi útil, considere enviar alguns satoshis para o endereço: guilherme@bipa.app
Eu agradeço!
Cara, muito bom
Parabéns pelo artigo professor ! Comprei o livro nas primeiras campanhas da Refúgio já pela Lightning, foi um de meus primeiros contatos com o ambiente !