[Artigo republicado no Blocktrends]
Covid-19. Vacinação compulsória. Quebra da FTX-Alameda. Compra do Twitter pelo Elon Musk. Real Digital. Parecem todos assuntos desconexos. Mas o que os une é o que eu chamo de batalha pelo app vital: a disputa de governos e empresas (ou uma parceria estratégica entre os dois) para criar seu próprio “everything app”, ou “super-app”, um aplicativo no seu smartphone que irá regular, controlar, colher seus dados e mediar sua interação com vários aspectos da sua vida civil usando biometria para sua identificação e a internet para a transmissão das informações.
Compras de supermercado, descolamentos, multas, auxílios financeiros/bolsas governamentais, acesso a prédios públicos e privados, mídias sociais e notícias.
Tudo em um só app baseado na sua identidade digital biométrica (como já é feita no portal gov.br para diferentes serviços governamentais) que irá lhe acompanhar do nascimento até a morte, usando como unidade de conta uma moeda digital emitida diretamente pelo banco central.
Seguindo a moral utilitarista para atingir objetivos aparentemente benéficos a todos (diminuir sua emissão de carbono, justiça social, se preparar para “a próxima pandemia”, etc.), direitos individuais como liberdade de expressão, propriedade e privacidade devem ceder lugar a uma equipe de especialistas e técnicos que poderão adicionar ou retirar créditos a depender do seu bom comportamento, cruzando dados obtidos com a sua atividade digital e também dos equipamentos de vigilância de segurança pública e privada.
Conecte este aparato de monitoramento digital às forças repressivas do governo - desculpa, seu código QR apareceu vermelho, você agora é um risco à saúde pública por ter emitido uma “desinformação” perigosa e deve ser confinado imediatamente - e se tem a ditadura tecnocrática perfeita “para o bem de todos”.
Concorde-se ou não com as medidas de exceção impostas pelos governos durante pandemia, a consequência prática delas foi fazer com que o povo se acostumasse com o hábito nefasto de condicionar a entrada em lugares públicos e privados usando códigos QR ou apps (como ConnectSUS no Brasil) a partir do seu registro médico centralizado em um órgão governamental.
Um app aparentemente inocente criado para facilitar sua relação com o sistema de saúde pública no Brasil (para marcar consultas ou anotar medicações) em uma situação de emergência ganhou mais musculatura e se tornou um instrumento de centralização de informações vitais e controle grandes grupos populacionais. Quem poderia imaginar?
Sam Bankman-Fried (SBF), fundador-fraudador da FTX-Alameda, inicialmente uma plataforma de negociação e especulação de shitcoins (incluindo as dos próprios clientes), vendia sua visão de futuro para os fundos de venture capital expondo sua grande ambição de que um dia o app da FTX fosse um portal a partir do qual alguém poderia fazer de tudo com seu dinheiro:
Um “super-app", nas palavras de SBF, onde você pode comprar de tudo ou enviar dinheiro para um amigo em qualquer lugar do mundo, tudo dentro do mesmo app. Um portal que mediasse e controlasse toda a troca de qualquer valor monetário que uma pessoa realize em sua vida.
Embora o sonho do super-app tenha se dissipado há duas semanas junto com a falência FTX-Alameda, acredito que ele ainda não morreu.
Ainda em choque com a aquisição do Twitter por Elon Musk, os grandes jornais, ameaçados pela perda do monopólio da informação, têm focado muito nas contas que serão restauradas (como a de Donald Trump) e no aparente “discurso de ódio” e “desinformação” que a liberdade de expressão poderia causar no debate público. Acredito que tudo isso é cortina de fumaça.
Em uma reunião virtual com as empresas que anunciam na plataforma, Elon Musk expôs o que realmente quer fazer com o Twitter. Sua visão é de que, no futuro, os usuários poderão enviar dinheiro dentro do próprio Twitter ou mover seu dinheiro para contas bancárias autenticadas e, mais tarde, ainda oferecer uma “renda” aos usuários do Twitter para incentivá-los a deixar seu dinheiro na empresa.
Ideias muito diferentes para um app que hoje é usado como uma plataforma de comunicação. Em pouco tempo, o Twitter pós-Elon pode ser tornar um dos maiores bancos digitais do planeta, um novo super-app que junte comunicação e bancarização dos usuários.
Nada disso é por acaso. Estamos vivendo uma guerra para decidir quem quer ser seu gatekeeper, o guardião do portal, aquela entidade pública ou privada que não só vai mediar todos estes aspectos vitais (principalmente identidade, transações financeiras e geolocalização), como também que terá o poder de colher os dados da sua vida virtual e saber monetizá-los da melhor forma.
Seres humanos reagem à incentivos e poucos incentivos são mais poderosos do que os monetários. Dinheiro é metade de praticamente toda transação econômica. Sem conseguir realizar transações financeiras, é difícil sequer viver no mundo contemporâneo. Em pouco tempo, se você não for autorizado a pagar suas contas, você provavelmente não terá alimentos, energia ou até um lugar onde dormir. Por isso Bitcoin é uma tecnologia tão revolucionária. Sendo uma moeda forte inconfiscável que funciona sem um terceiro intermediário, você não precisa da autorização de ninguém para guardar ou transmitir valor monetário.
A criação do Real Digital é o oposto disso. Ele usará toda a dependência que hoje temos de um meio de pagamento contra o próprio indivíduo. Por que não tornar o processo de punição ou recompensa, mais, digamos, instantâneo? Por que esperar um juiz determinar que você pague uma multa depois de um processo judicial se, com um clique de um botão, um órgão do governo pode bloquear seus fundos para punir você caso se comporte de uma forma que gere "riscos” à segurança pública?
Chefes de governo reunidos no G20 recentemente chegaram à conclusão na Declaração de Bali de que deve haver uma ação integrada global para implantar moedas digitais de bancos centrais e para que sejam estabelecidos passaportes vacinais internacionais. Depois da guerra na Ucrânia, Rússia e o Ocidente parecem não concordar em nada. Mas até nisso eles concordaram: uma maior vigilância e controle deve ser implantado na relação entre governos e seus subordinados.
Os próximos anos serão marcados por esta guerra de quem será nosso gatekeeper. Os governos e as empresas a eles associados querem aos poucos substituir o que restou de garantias e direitos individuais para implantar no lugar arquitetura tecnocrática ditatorial e vão usar todo tipo de desculpa para implantá-la, desculpas que vão desde a concentração de C02 na atmosfera ou a necessidade de suprimir discursos potencialmente perigosos para “democracia”. A menos que haja uma forte resistência popular a essas medidas, não vejo como não vão conseguir.
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Eu agradeço!
Já fui contra o bitcoin. Hoje a questão se tornou inquestionável. O Bitcoin representa a liberdade e o salvo-conduto do cidadão. Não adianta, ouro, imóveis, ações nas corretoras ou outro qualquer bem que o cidadão tenha conquistado através de muito trabalho e, sobretudo, do tempo perdido. O ESTADO irá atrás do cidadão e tomara tudo que ele tiver, simplesmente apertando um botão, sugando implacavelmente tudo, inclusive destruindo sua Vida e da sua família. Tudo será transferido para os bolsos dos parasitas e vagabundos que sobrevivem na folha de pagamento de empresas estatais e dos governos municipais, estaduais e federais. Enfim, a máquina governista irá até o inferno na caça dos seus bens.
Felizmente ainda existem esforços pra descentralizar tudo o que for importante.