Como uma Tesouraria de Bitcoin Converte Reservas Ociosas em Capital Estratégico
Tradução do artigo escrito por Nick Ward publicado na Bitcoin Magazine
No final de março, publiquei aqui um post para tentar responder à questão: Por que muitas empresas estão entesourando Bitcoin?
Minha tese neste artigo é que Bitcoin representa um novo paradigma monetário e isso implica uma mudança na nossa percepção de tempo, capital e valor. Mais especificamente, se o padrão Bitcoin muda como indivíduos guardam sua riqueza e poupam, ele também vai mudar radicalmente como vamos empregar capital e como empresas vão gerir os recursos acumulados em caixa.
Meu post é teórico e um tanto quanto longo. Poucas semanas depois que o publiquei, li um artigo excelente em inglês um pouco mais curto e que tentou responder a exatamente à mesma pergunta do que eu.
Além disso, o artigo usa uma analogia poderosa: ele compara o Bitcoin ao petróleo bruto e as empresas que usam o Bitcoin como capital estratégico às refinarias de petróleo. Curiosamente, no meu artigo sobre a necessidade de o Brasil constituir uma reserva estratégica de Bitcoin, eu também falo sobre a criação da Strategic Petroleum Reserve (SPR), estabelecida após a crise do petróleo de 1973-1974.
Dinheiro e petróleo, afinal, são baterias. Diferentes formas de energia acumulada. A primeira é energia acumulada pelo homem, a segunda acumulada pela natureza.
Gostei tanto do artigo que li na Bitcoin Magazine que decidi que, pela primeira vez aqui no meu substack, publicar algo o que não é de minha autoria. O artigo original foi escrito por Nick Ward e a tradução abaixo é minha.
Como uma Tesouraria de Bitcoin Converte Reservas Ociosas em Capital Estratégico
Com uma estratégia de tesouraria de Bitcoin, as empresas podem transformar reservas em ativos estruturados, desbloqueando nova demanda de investidores e ferramentas de formação de capital.
A próxima evolução das finanças corporativas não é a diversificação — é o refinamento financeiro.
Na indústria do petróleo, as reservas são apenas o começo. O que move o mundo não é o petróleo bruto, mas os produtos refinados: combustível de aviação, diesel, gasolina, óleo para aquecimento. Cada um atende a um mercado e possuem diferentes formas de usar e perfis de risco.
Empresas de capital aberto que detêm Bitcoin estão agora descobrindo algo semelhante.
O Bitcoin, mantido no balanço patrimonial, não é apenas uma reserva passiva. É um recurso monetário bruto — que pode ser refinado em múltiplos instrumentos financeiros projetados para atender às necessidades específicas de diferentes participantes do mercado. De dívidas estruturadas a ativos geradores de rendimento e participação societária ligada à valorização do Bitcoin, a tesouraria deixa de ser apenas um local para armazenar valor. Ela se torna uma refinaria, capaz de produzir diversos produtos para o mercado de capitais a partir de um único insumo escasso. Essa mudança é sutil, mas transformadora. E representa um novo paradigma para formação de capital, acesso de investidores e estratégia de tesouraria corporativa.
De Reservas Ociosas a Refino Ativo
A estratégia tradicional de tesouraria há muito tempo se concentra na preservação do capital. As empresas acumulam dinheiro, títulos de curto prazo e equivalentes líquidos como reserva de defesa. Embora esse conservadorismo possa preservar a opcionalidade, muitas vezes corrói o valor para os acionistas em termos reais — especialmente em ambientes inflacionários ou de baixa rentabilidade.
Bitcoin muda a equação.
O Bitcoin é líquido, globalmente fungível e auditável de forma transparente. Mais importante, é um capital programável — um ativo ao portador sem risco de contraparte e com oferta fixa. Quando colocado no balanço, ele permite novas formas de expressão financeira. Assim como as empresas de petróleo refinam o petróleo bruto em produtos energéticos diferenciados, as corporações agora podem refinar suas reservas de Bitcoin em produtos financeiros estruturados que atendem à demanda em toda a estrutura de capital. Isso transforma a tesouraria de uma rede de segurança estática em uma fonte estratégica de acesso ao capital.
Quatro Produtos de uma Refinaria de Bitcoin
Quando o Bitcoin é a reserva, a tesouraria pode produzir produtos refinados projetados para diferentes mandatos de investimento, tolerâncias a risco e restrições regulatórias. Esses produtos se dividem em quatro categorias principais:
Instrumentos de Dívida Conversíveis
Dívidas conversíveis respaldados em Bitcoin oferecem exposição ao potencial de valorização do BTC, muitas vezes com downside limitado. Elas atraem investidores institucionais que desejam opcionalidade de longo prazo, mas são restritivos à exposição direta ao Bitcoin. Essas estruturas podem ser calibradas para volatilidade, duração e perfis de diluição.Instrumentos Geradores de Renda
Corporações podem estruturar instrumentos que geram rendimento previsível, colateralizados por reservas de Bitcoin. Isso abre acesso aos mercados de renda fixa enquanto mantém a flexibilidade da tesouraria. São especialmente atraentes para alocadores que buscam retornos sem navegar pela custódia ou volatilidade do BTC.Participação acionária vinculada ao BTC
Quando o desempenho da ação está visivelmente ligado ao crescimento das reservas de BTC, os acionistas ganham uma tese clara e direcional. Investidores que buscam upside assimétrico podem participar por meio ações que acompanham a exposição ao Bitcoin, combinando convicção macro com liquidez e governança.Fluxos de Renda Futuros Baseados em BTC
Produtos como $MSTY e os novos ETFs de covered calls da Bitwise estão abrindo o caminho. Eles geram renda a partir participação acionária atrelada ao Bitcoin — oferecendo proteção contra quedas, rendimento mensal e exposição amigável a mandatos para fundos de pensão, seguradoras e endownments.
Cada produto é o resultado já refinado — um instrumento voltado para o mercado projetado para entregar valor a partir da mesma reserva subjacente.
Atendendo Investidores que Não Podem Deter Bitcoin — Mas Querem Exposição
Uma dinâmica muitas vezes negligenciada nos mercados de capitais é a restrição regulatória sobre mandatos de ativos. Grandes alocadores institucionais — fundos de pensão, endownments, seguradoras — muitas vezes são proibidos de possuir Bitcoin diretamente devido a políticas internas ou limitações de custódia.
No entanto, muitos desses alocadores buscam exposição indireta ao potencial de longo prazo do Bitcoin. Produtos de tesouraria de Bitcoin refinados oferecem uma ponte. Eles entregam exposição ao BTC sob medida por meio de estruturas conhecidas, removendo o risco operacional de custódia. Esses instrumentos permitem que os alocadores participem da tese do Bitcoin enquanto permanecem em conformidade com os mandatos existentes. Para a empresa emissora, isso desbloqueia novos pools de capital e amplia o alcance dos investidores sem alterar o negócio subjacente.
O Modelo de Refinaria Não Exige Mudança no Core Business
Um dos aspectos mais atraentes desse modelo é que ele não exige que uma empresa se torne algo que não é. O modelo de refinaria é complementar às operações existentes. Os produtos, serviços e linhas de negócios da empresa permanecem intactos. O que muda é como ela gerencia e mobiliza sua tesouraria. Uma tesouraria de Bitcoin desbloqueia o balanço patrimonial:
Novas ferramentas de formação de capital: Títulos que antes não estavam disponíveis, agora construídos com colateral de BTC.
Maior alcance de investidores: Incluindo instituições que não podem deter BTC diretamente, mas podem deter instrumentos refinados.
Estruturas alternativas de valiation: Passando de earnings per share tradicionais para Bitcoin por ação (Bitcoin per share) como uma métrica emergente de densidade de capital.
Narrativa mais forte nos mercados de capitais: Uma história que se alinha com tendências macro e convicção dos investidores em torno da escassez.
Esse modelo também evita armadilhas comuns na estratégia de tesouraria tradicional — como depreciação da moeda, dependência de reservas fiat de baixo desempenho ou diluição excessiva durante captações de capital. Ele oferece opcionalidade sem complexidade operacional. O resultado não é disrupção — é uma atualização estratégica.
Conclusão: Uma Nova Era de Formação de Capital
O Bitcoin é o primeiro ativo monetário digitalmente escasso. Quando mantido no nível corporativo, ele permite uma forma de refinamento de capital que nunca foi possível com reservas fiat ou tradicionais. Isso não significa apenas deter Bitcoin. Significa desbloquear seu potencial — transformando um único ativo de reserva em múltiplas expressões financeiras, cada uma calibrada para diferentes investidores e resultados estratégicos.
A tesouraria corporativa não é mais estática. Ela é agora programável. Refinada. Estratégica.
A refinaria está aberta.
O recurso é escasso.
A questão é: o que você vai produzir?
Honkpil é você notar que o Renato Amoedo (38ão) vem acertando suas previsões desde quando furou o mainstream. O cara esta certo em 98% das coisas que fala 🤭
Brilhante!
Quero ajudar a implementar essa estratégia em uma incorporadora/gestora de propriedades imobiliárias, mas me parece muito difícil ultrapassar as barreiras regulatórias, situação econômica e até visão dos sócios sobre o tema. Com a sua experiência e participação na Meliuz, quais passos seriam necessários para avançar esse tema numa empresa do Real Estate?