Méliuz (CASH3) adquire Bitcoin em nova estratégia de tesouraria
Seguindo outras grandes empresas estrangeiras, Méliuz (CASH3) é primeira empresa de capital aberto no Brasil a adquirir Bitcoin com o objetivo de torná-lo principal ativo de tesouraria
Foi inesquecível quando Anthony Pompliano chamou um convidado novo para seu famoso programa The Pomp Podcast.
O episódio saiu no dia 16 de setembro de 2020 e o Pomp trouxera para conversar um executivo que ninguém parecia conhecer mas que tinha acabado de fazer algo inédito: transformara o caixa de sua empresa em Bitcoin. Com esta decisão, a Microstrategy, fundada há mais de três décadas, se tornava a primeira empresa de capital aberto do mundo adotar o padrão Bitcoin, usando-o como ativo de reserva principal no seu balanço. E seu CEO e chairman, Michael Saylor, estava lá com Pomp para explicar o que motivou sua decisão.
A conversa que se seguiu foi um momento pivotal na história das finanças corporativas.
Saylor nos contou como, no início de 2020, se viu diante de um dilema financeiro de 500 milhões de dólares devido à desvalorização do dinheiro em caixa diante da inflação e de taxas de juros negativas. Ele via a riqueza líquida de sua empresa derretendo como um cubo de gelo, ao mesmo tempo em que tinha a obrigação estatutária de proteger seu valor para os acionistas da empresa. Após avaliar algumas alternativas ao dólar, como ações de tecnologia e ouro, concluiu que Bitcoin era uma aposta assimétrica muito mais promissora, descrevendo-o como "100x ou até 1000x melhor que o ouro" devido aos seus atributos superiores enquanto moeda absolutamente escassa e descentralizada, além da vantagem competitiva do Bitcoin como uma rede digital dominante.
Sua decisão foi um tremendo sucesso. Passados mais de quatro anos, empresa já acumulou mais de quase meio milhão de bitcoins, usando uma combinação de fluxo de caixa, emissão de dívidas conversíveis e vendas de ações - uma estratégia que havia sido apenas teorizada por Pierre Rochard em 2014 mas até então nunca posta em prática. O sucesso desta estratégia faz com que o preço de suas ações sejam negociados com múltiplos de ágio sobre seus ativos, aumentando ainda mais o volume de negociação dos papeis, o que faz com que sejam ainda mais atrativos para quem opera com derivativos como opções e futuros.
No final do ano passado, as ações da empresa foram incluídas no Nasdaq-100, composto pelas 100 maiores empresas não financeiras listadas na Nasdaq, fazendo parte de grandes ETFs como o Invesco QQQ Trust (QQQ) e o Invesco NASDAQ 100 ETF (QQQM). Recentemente a empresa até mudou de nome, deixou de ser Microstrategy para se simplesmente Strategy, e hoje está com valor de mercado de aproximadamente US$ 90 bilhões. Nada mal para uma empresa que em 2020 valia entre US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões.
Agora em 2025 estamos muito mais avançados na adoção corporativa do Bitcoin, já que outras empresas de capital aberto também incorporaram Bitcoin em seus caixas.
Acompanhando estes movimentos, lá em 2021 eu já escrevia sobre a inevitabilidade do Bitcoin se tornar um ativo financeiro. Neste meio tempo, tivemos também aprovação dos ETFs spot no Estados Unidos no começo do ano passado (que comentei aqui), que passaram a fazer parte de milhares de fundos e portfólios. O ETF da Bitcoin da BlackRock, iShares Bitcoin Trust ETF (IBIT), atraiu mais de US$ 30 bilhões em ativos sob gestão em menos de um ano após seu lançamento, tornando-se o ETF de maior captação de recursos na história em tão pouco tempo. O IBIT superou o desempenho inicial de outros ETFs notáveis, como o SPDR Gold Shares (GLD) ou o Invesco QQQ, que levaram anos para atingir níveis semelhantes de Assets Under Managment (AUM).
A Square (atual Block), fundada por Jack Dorsey, criador do Twitter, poucos meses depois que Saylor também comprou US$ 50 milhões em Bitcoin (4.709 BTC), representando 1% de seus ativos totais à época, seguido por outra compra de US$ 170 milhões em 2021. Em fevereiro daquele ano, a Tesla adquiriu US$ 1,5 bilhão em Bitcoin, justificando como uma diversificação de suas reservas de caixa e uma proteção contra a desvalorização do dólar.
Empresas americanas mineradoras de Bitcoin como Marathon, Riot Platforms e Hut 8 integram produção de novos bitcoins ao acúmulo nas suas respectivas tesourarias. No ano passado, a Semler Scientific, negociada na Nasdaq, anunciou formalmente sua adoção do Bitcoin como seu principal ativo de reserva de tesouraria (primary treasury reserve asset) e já acumulou 3.192 bitcoin, segundo seu último relatório.
E a estratégia também se espalhou pelo mundo. A Metaplanet, uma empresa listada na bolsa de valores de Tóquio, tem acumulado agressivamente Bitcoin como parte de sua transformação estratégica, posicionando-se como a primeira e empresa pública japonesa a ter seu próprio Bitcoin Treasury. Como a Strategy, a empresa também implementou diferentes ferramentas financeiras, como emissão de títulos conversíveis e equity, para maximizar suas compras, sem, no entanto, comprometer a estabilidade financeira da empresa. Com isso, eles já conseguiram acumular 2.888 bitcoins.
Abaixo anexei um gráfico com os 70 maiores caixas em Bitcoin, o que dá uma boa ideia do estágio em que estamos no momento:
Mas para uma lista completa e atualizada do rol dos maiores tesouros em Bitcoin, sugiro acompanhar este site: https://bitcointreasuries.net/
Mais cedo ou mais tarde, eu esperava que alguma empresa brasileira também integrasse o Bitcoin em sua tesouraria. Afinal, se o Bitcoin é uma excelente alternativa ao Dólar americano, ele é uma alternativa ainda melhor ao Real brasileiro. A inflação da nossa moeda nacional é assunto que está na boca e na mente de todos e não é preciso convencer ninguém de que é um enorme problema dos cidadãos e empresas brasileiras, que veem seu poder de compra se deteriorar rapidamente. Se o Dólar é um gelo derretendo em Real ele evapora. Faltava apenas que alguma empresa com um caixa robusto e uma operação lucrativa tomasse a decisão para fazer este upgrade fundamental em sua tecnologia monetária.
A Méliuz (CASH3) abriu capital na B3 em 2020, tornando-se a primeira startup brasileira a ser negociada na bolsa. De acordo com o fato relevante divulgado hoje pela empresa, ela também é primeira empresa de capital aberto a integrar o Bitcoin em sua nova estratégia de tesouraria com o objetivo de torná-lo de reserva principal. Ontem, já de acordo com sua nova política, ela transformou 10% do seu caixa em 45,72 bitcoins a um preço médio de US$ 90.296,11 por bitcoin (US$ 4,1 milhões aproximadamente). Olhando em retrospecto, ela era a candidata perfeita para tomar esta decisão. É conhecida nacionalmente por seu programa de cashback e serviços financeiros. Possui uma operação superavitária e um caixa robusto. Uma saúde financeira muito semelhante à da Microstrategy em 2020.
Recentemente, tive a honra de ser eleito para integrar Conselho de Administração da Méliuz. Além de mim, também foram eleitos Tiago Almeida e Roberta Antunes como novos conselheiros. O novo conselho já solicitou à administração uma análise detalhada sobre a viabilidade da ampliação da estratégia, incluindo:
- Adoção do Bitcoin como principal ativo estratégico de tesouraria;
- Possíveis formas de geração incremental de Bitcoin para os acionistas, seja por meio da alocação de caixa, do fluxo de caixa operacional ou de outras iniciativas estratégicas; e
- Avaliação de alterações necessárias em seus documentos societários, políticas e procedimentos internos, incluindo estruturas e política de gerenciamento de riscos para fins de ampliação de limites para tal investimento em Bitcoin.
Meu colega bitcoiner e grande fonte de inspiração e conhecimento Diego Kolling será nosso Head da Estratégia Bitcoin no comitê responsável por elaborar a estratégia Bitcoin dentro da companhia. Junto com toda a equipe da empresa, liderada pelo fundador e chairman Israel Salmen, faremos com que a Méliuz tire todo o proveito no pioneirismo de se adotar a melhor tecnologia monetária que já existiu na história da humanidade.
A história brasileira sendo escrita. Parabéns Guilherme.
Parabéns! Mas vê se deixa um pouco de BTC no mercado pra gente também