Se você ainda não leu meu artigo recente Lei de Gresham ou Lei de Thiers? vou resumir aqui em uma frase: ausentes os controles coercitivos dos governos, as pessoas e os mercados em geral sempre vão preferir usar moeda forte e não uma moeda fraca. Em situações de liberdade, a moeda forte “expulsa” a moeda fraca.
Por isso, quando ouvimos por aí o oposto, que “moeda fraca expulsa a moeda boa”, na verdade esta é uma má interpretação da lei de Gresham que não faz sentido se considerarmos o verdadeiro papel que controles de capitais e leis de curso forçado possuem para uma moeda fraca existir e ser usada.
No final das contas, este tipo de legislação distorce as preferências das pessoas mas liberdade e prosperidade sempre puxam e exigem moeda forte, simples assim. Ausentes os controles coercitivos, a moeda forte que “expulsa” a moeda fraca assim como um produto melhor “expulsa” um produto pior do mercado porque simplesmente é melhor para uma pessoa usar moeda forte sempre que puder em sua vida.
Escrevi aquele artigo longo e prolixo para explicar por que esse foi um padrão na nossa história monetária e que moedas fortes como o florin na Idade Média ou o dólar sempre foram a moeda corrente em mercados ou fronteiras de novos mercados onde havia um maior grau de liberdade monetária, cujo exemplo clássico é o próprio mercado internacional.
Com estas considerações em mente, quero aqui tecer algumas reflexões sobre qual seria, então, a moeda corrente da mais nova fronteira de mercado: inteligência artificial.
Arthur Hayes recentemente escreveu um artigo com exatamente esta pergunta: Qual será a moeda escolhida pelas inteligências artificiais? Sugiro a leitura.
Podemos discutir o quão inteligentes são ou serão as inteligências artificiais mas é difícil não ver que elas já se provaram muito úteis em nossas vidas, realizando tarefas em segundos o que um ser humano demoraria horas e muitas vezes superando algumas de nossas habilidades. Podemos só especular o que farão no futuro, mas é inegável que é uma tecnologia muito promissora.
Uso o plural “inteligências artificiais” porque creio que serão vários serviços e utilidades e que elas habitarão os mais variados nichos: computadores, aviões, casas, carros, corretoras, bolsas, sites, televisões e fábricas.
A questão é que, para elas funcionarem bem, precisam consumir muita energia em forma de servidores e placas de vídeo e também precisam interagir facilmente com as pessoas que querem usar seus serviços. Tudo isso em um ambiente desmaterializado e global. Imagine que um programa de IA precise usar os servidores nos EUA mas seus serviços são requisitados no Japão e na Índia, tudo precisa funcionar 24h todos os dias em várias jurisdições diferentes. Além disso, seu modelo de negócios pode demandar micro-pagamentos por cada output gerado, refinando ainda mais o custo e a demanda. Por exemplo, uma empresa de meteorologia japonesa quer o usar um servidor americano para extrair as imagens de satélite e gerar com uma IA desenvolvida por uma empresa canadense um modelo novo de predição de ondas marítimas. Essas imagens são geradas a cada segundo e a integração entre IA e servidores precisa ser feita feita automaticamente tendo em vista os custos envolvidos. Como fazer tantos pagamentos em tantos lugares com o sistema tradicional fiat, com cartões de crédito, instituições financeiras que precisam operar em várias jurisdições e que simplesmente podem negar ou interromper o pagamento ou o serviço?
Além desses entraves, o sistema de pagamento das moedas governamentais é extremamente inflacionário e as inteligências artificiais precisarão manter seu poder de compra no futuro para pagar por tantos inputs.
Só há uma moeda capaz de satisfazer esta demanda e ela é o Bitcoin, uma moeda nativa da internet que é praticamente uma energia monetizada, e até agora só há uma rede de pagamentos aberta o suficiente para realizar tantos micro-pagamentos de forma fácil, barata e descentralizada: Lightning Network.
Talvez estejamos diante da simbiose mais esperada do planeta: o melhor dinheiro do mundo junto com uma tecnologia que consegue processar tanta informação de uma forma assustadoramente inteligente e voltada às nossas demandas.
A rigor, esta simbiose nem precisa ser decidida por seres humanos. No próprio protocolo de IA pode haver um comando para que ela mesma busque a melhor moeda disponível para realizar essa integração econômica. A adoção do Bitcoin só não é maior hoje em dia por causa do viés de normalidade de muita gente que sempre usou o sistema tradicional (como tentei explicar aqui). Não haveria este problema com uma IA que já nasceu no cyberespaço.
Por estes motivos fiquei tão animado quando li sobre o lançamento do protocolo L402 desenvolvido justamente para ajudar na comunicação de pagamento entre a Lightning Network e a inteligência artificial baseada em modelos de linguagem ampla (ou Large Language Models, LLMs em inglês).
Os próximos anos serão muito interessantes e talvez a próxima onda de adoção do Bitcoin não seja nem humana. Inteligências artificiais podem elas próprias gerar suas carteiras de Bitcoin, abrirem seus canais de pagamento de Lightning e decidirem autonomamente por sua própria arquitetura financeira pagando em satoshis umas às outras formando uma verdadeira rede neural mantida e alimentada pelo melhor dinheiro do mundo.
Se este texto lhe foi útil, considere enviar alguns satoshis para o endereço: guilherme@bipa.app
Eu agradeço!
Isso faz muito sentido. Eu sou novo no mundo do Bitcoin e tenho dificuldade em acreditar nos tutoriais de como começar a comprar Bitcoin para estar protegido. Você sugere algum passo a passo para isso? Minha intenção não é nem fazer trade mas sim acumular Bitcoin como proteção mesmo. Obrigado.
Show Guilherme! Parabéns pelo conteúdo!